sábado, 19 de julho de 2008

Miacoutando em Miacoutês

Anoitecia. A cacimba vinha caindo na mulata, que roliça passeava mais as nudezas que roupezas, tanto era o calor que fazia naquela tarde bemprazeira de final de Verão.

José Lemos Beleza, mais conhecido em Cidade Tigreza, por Ti-Zé LemBê, não era velho babão, mas não resistia a ficar de queixadas caídas sempre que Leolontina Bendita, passava em frente à porta de sua casa.

Lôlô, sabia do efeito que tinha nos homens, mas apesar dos seus 16 anitos, viveu desde os cueiros com sua avô e a sua cabeça era muito madura, embora ainda fosse menina-moça.

Sempre que a via passar, o velho perguntava à dezasseisanista:
- Não se cansa carregando tanta beleza?
- Lôlô respondia: Beleza é que nem doença, ou se morre dela ou esperemos que passe. Com a idade ela vai embora e fica-se curado. Logo quem vai tendo saude vai chegando a velho e vai chegando a feio. E isso é que ser saudavel, por isso vamos ficando mais leves com a idade.

O velho ficava calado enquanto ela ia segundo o seu caminho e ondolava as roliças coxas.

À noite... sonhava com ela.

Nota:
Isto são os efeitos de ter acabado de ler "Venenos de Deus, Remédios do Diabo"
Para ser mais Miacoutês, tinha que ter mais palavras que não existem nos dicionários, em geral adaptadas de outras existentes mas com terminações diferentes, transformações entre verbos, nomes e adjectivos. Teria também um estrangeiro inadaptado à vida em Africa, muitas frases sentenciosas, daquelas que se ganham com a sabedoria da idade e da contemplação do mundo. Um jogo entre a verdade e a mentira, da qual não saberíamos qual a legitima. Algumas palavras em dialecto e um ritmo de saborear a vida, que só os africanos têm e nós europeus invejam...
Finalmente uma carga de magia e erotismo, mais ou menos explicito...Fetiche? Isto recorda-me ter ouvido o Júlio Machado Vaz dizer que entre outras coisas que os portugueses deram ao mundo foi a palavra Fetiche. Uma deturpação por parte dos Franceses, Ingleses e Holandeses da palavra FEITIÇO.
Resumindo o Mia Couto também deve ter um fetiche por rapariguinhas... Mais interessante do que isso só a tara do "José Rodrigues dos Santos" pela aluna Sueca. Veja-se o momento "autobiográfico" do "codex..."

3 comentários:

Citadina disse...

Assim se comprova: eu ando tão por fora dos mexericos do Jet7...
Explica lá essa da aluna sueca??!! Então aquilo é um momento auto-biográfico?! Sempre desconfiei! Havia demasiada sede naquela descrição!

...a metade... disse...

O autobiográfico passou a estar entre aspas e em itálico para se perceber que é uma suposição. Quem escreve fala sempre um pouco de si e pareceu-me tão gráfica a situação descrita, que não é dificil imaginar o JRR a passar por uma situação similar ou a desejar ter passado...
Um fetiche...ou uma mera fantasia masculina.

Citadina disse...

Talvez...
Mas re-centrando a atenção no Mia...
Essa coisa das rapariguinhas... É rapariguinhas com violação, invariavelmente.
E não sei, não sei mesmo, se o último "Venenos de Deus, Remédios do Diabo" não é mesmo um apelo xenófobo...
Será que viver em África faz assim tanto mal?...
Não me vais dizer desta vez, que também é autobiográfico?... :)