terça-feira, 17 de junho de 2008

Histórias de familia - As expressões da avó

A minha avó teria feito 107 ano do dia 16, se fosse viva.
Do pouco tempo que tive a sorte de a ter por perto, recordo o facto de andar sempre agarrado às suas saias. Uma personagem de um Portugal antigo: Baixinha, vestida de preto da cabeça aos pés. Lenço na cabeça, um sorriso maroto e a minha expectativa constante de existir alguma goludiçe escondida... Por vezes, não usava roupa interior, só as saias e os saiotes. Com esta liberdade, quando estava aflita, bastava abrir as pernas e urinava em pé, limpando-se às saias. Outras tantas vezes a minha mãe ralhava com ela pelo hábito não higiénico, mas desculpava-se-lhe a idade, outros tempos outros conceitos.
Era viuva há muitos anos. O marido tinha emigrado para o Brasil em 1929. Segundo a minha mãe, dez dias antes de ela fazer um ano. Deixou-a com 4 filhos, todos crianças. Dele, além das cartas ternas que lhe escrevia, soube-se que faleceu anos mais tarde num rio no estado de São Paulo. Acidente, assasinio, suicidio? Nunca se soube. E da vida que teria tido lá... Teria constituido outra familia, teria tido mais filhos?
Além da ternura que temos sempre pelos avós, que se podem dar ao luxo de apenas acarinhar e proteger, deixando a disciplina para os pais, ficam algumas expressões que sem querer vêm sempre à memória.
Duas delas:
"Não vés? Dá um murro no olho.... que até vês luzes!!!"
"Tens medo? Do cagalhão que está quedo!!!!"
Sorriu por dentro. Saudades

4 comentários:

Citadina disse...

Memórias destas são coisas preciosas, são mais que parte da nossa história pessoal, são também fragmentos da história de um povo.
O post só por si, dava material para um livro, com esse interessante pormenor do Brasil versus o Portugal de antigamente, o elo familiar quebrado, etc.! Há quem já o tenha feito partindo mais ou menos do mesmo... (MST, Rio das Flores...) ;)

...a metade... disse...

É uma sugestão de leitura? ainda nem li o Equador que está a descansar na "parteleira"...
Parece-me que histórias de familia serão sempre um bom ponto de partida para romancear, ou no meu caso para um mero exercício. Não tinha noção que o MST o tivesse feito. Cada vez me convenço que a realidade tem cada história mais original que qualquer livro. Há umas que não acreditamos serem reais de tão absurdas que são...
(Não tenho sapinhos para te mandar)

Citadina disse...

Ehehehe, não faz mal, isso dos sapinhos. Na verdade eu também prefria ter, sei lá, gatinhos, mas pronto, os autores dos portais e os criativos do marketing também têm direito a ser pindéricos, e aqueles, pronto, exageraram. :)
Quanto à suposta sugestão de leitura... Olha, se queres que te diga, acho a TUA história bem mais interessante que a do Rio das Flores! Ou seja, tens TODA a razão quando insinuas que a realidade é uma fonte de histórias muito mais fascinante que qualquer romance.
Se queres ler, lê o Equador, esse de facto vale a pena.
Beijo grande!

Unknown disse...

eu lembro-me de dormir a sesta aos pés da bivó!^^
bolas...há quê? kuase 30 anos? o.O
na m lembro do k comi ontem, mas tenho cravada na memória essa imagem!
:)))))